sábado, 12 de maio de 2012

Esconder ou criar tatuagens de atores na TV dá trabalho




RIO - Na arte da caracterização, vale tudo para enriquecer um personagem. Enquanto alguns atores precisam esconder suas tatuagens reais para interpretarem determinados papéis, outros ganham desenhos falsos pelo corpo. E com técnicas de maquiagem cada vez mais modernas, a arte do "esconde e mostra" se tornou ainda mais comum.
Para viver o vilão Moisés, em "Malhação", o ator Alejandro Claveaux recebeu uma cruz no braço esquerdo e um desenho tribal, que vai do meio do braço direito até o pescoço. Mas o processo de pintura, que no início da atual temporada da novela levava cerca de uma hora e meia para ficar pronto, hoje dura aproximadamente 15 minutos, segundo o maquiador Tiago Rononnes.
— No começo era bem trabalhoso, a gente pintava a tatuagem com uma tinta especial, o que demorava muito. Mas o departamento de efeitos desenvolveu uma técnica mais ágil, que tem sido usada em todas as produções. Agora, aplicamos um adesivo na pele do ator, passamos um pó e, depois, o fixador — explica Rononnes.
E mais do que um elemento estético, a tatuagem ajuda o ator a compor seu personagem.
— Quem faz uma é alguém que quer se destacar, é seguro de si e quer exibir sua personalidade. Por isso, quando eu me vejo tatuado, sinto uma segurança e já caio direto no lugar que construí para o Moisés — diz Alejandro.
Há nove meses convivendo com as duas tattoos de "mentirinha", ele já pensa em fazer uma verdadeira.
— Já faz tanto tempo que estou com elas, que acho que vou sentir falta. Pretendo fazer uma e já tenho na cabeça algumas opções, mas nada tão grande como essas — conta.
Situação oposta acontece com o ator Bernardo Falcone, que interpreta o nerd Téo Marques em "Rebelde". Jovem tímido e introspectivo, o personagem pouco aparece sem camisa. Mesmo assim, o ator precisa esconder a palavra "sucesso", escrita em japonês, na altura da cintura para as cenas de piscina. A maquiagem à prova d’água leva cerca de 20 minutos para ser feita e, segundo Bernardo, ainda que pudesse, não a dispensaria.
— Mesmo que eu possa incorporar a tatuagem à caracterização de outros personagens, acho que vou preferir cobri-la, pois ela tem significado para mim, para minha vida. Os personagens não têm nada a ver com isso — defende Falcone.
Assim como ele, a atriz Letícia Persiles precisou esconder o enorme desenho que carrega na parte superior de seu braço direito — uma homenagem à fauna e à flora da Mata Atlântica — para viver a jornalista Miriam, em "Amor eterno amor".
— Escolhi essas formas porque o contato com a natureza foi muito intenso durante minha infância e adolescência. Quis imitar a postura vaidosa das árvores que me viram crescer. Fazer essa tatuagem foi um dos passos que dei em direção a um caminho novo, que me levou a oportunidades maravilhosas — conta ela, referindo-se ao convite que recebeu do diretor Luiz Fernando Carvalho, em 2008, quando, justamente por conta de sua tatuagem, foi escolhida para viver a personagem Capitu, na minissérie homônima.
Mas, no caso da atriz, o processo para esconder sua tatuagem é mais trabalhoso e demora cerca de uma hora para ficar pronto. A cobertura é feita com o airbrush, um compressor que libera a maquiagem líquida na área exata a ser escondida. E, segundo a supervisora de caracterização Valéria Toth, quanto menos produto for usado, mais natural ficará.
— A dela demora um pouco, pois é uma tatuagem extensa e bem colorida, que dá um contraste forte com a pele clara. Antigamente, usávamos produtos em creme, como os corretivos. A primeira camada era um tom alaranjado e, depois, o tom da pele. Hoje em dia, fica bem mais próximo à realidade — explica.
Enquanto Letícia esconde, Carmo Dalla Vecchia, seu parceiro de folhetim, embarca na onda dos adesivos. O vilão Fernando, interpretado por ele, estampa seu nome tatuado no peito e também a letra M, a inicial da amada, desenhada na palma da mão esquerda, sobre a linha da vida.
Quem também conta com o recurso das tatuagens fake para incrementar sua caracterização é Jayme Matarazzo, o Rodinei de "Cheias de charme". O ator, que já tinha as assinaturas dos avós maternos tatuadas no tornozelo, ganhou uma tribal no braço direito para viver o entregador.
— Acredito que qualquer artifício que o distancie da sua pessoa e o leve para o personagem ajuda. Rodinei vive de arte e é um cara de atitude. Ter a tatuagem é uma forma de expressão. Compõe bem — afirma Matarazzo, que espera apenas cinco minutos para ter o desenho pronto.
E em "Avenida Brasil", os exemplos se multiplicam. Para homenagear o pai adotivo, Tufão (Murilo Benício), o jogar Jorginho, vivido por Cauã Reymond, tatuou o nome do ex-craque em seu antebraço direito. Marca esta que pode ser observada em muitos jogadores, na vida real.
— Percebi que vários jogadores de futebol têm uma, geralmente no mesmo lugar da do Jorginho. E sempre com o nome de alguém da família. Assim, a dele me ajuda a entrar no espírito do personagem — explica o ator.
Outro que também recebe a aplicação dos adesivos, e de forma ainda mais chamativa que Jorginho, é o malandro Darkson, interpretado por José Loreto, que trabalha como locutor na loja de Diógenes (Otávio Augusto). Com uma caveira no braço esquerdo, uma carpa no direito e a frase lema do personagem, "sorrir para não chorar", estampada no peito, o personagem conquistou até a responsável pela caracterização, Gil Santos.
— Trabalho há 13 anos com isso e já tatuei mais de 50 personagens. O mais interessante até hoje foi o Darkson porque a frase é a mais bonita. Eu amo de paixão! O desenho das letras no peito é lindo e muitas pessoas me param para perguntar como é feito. Fiquei até com vontade de fazer uma igual em mim — brinca Gil.
Apesar do sucesso dos desenhos, o ator prefere manter as tatuagens apenas como uma característica de seu personagem.
— Não tenho nenhuma tattoo e não pretendo ter, pois acho melhor ficar em branco para poder compor diversos personagens — diz Loreto.


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